Staccato Limão
Tal como as sensações do vento levante em Setembro, o Windy Rock dos Staccato Limão traz-nos, simultaneamente, candura e intensidade.
É precisamente essa dialéctica de contraste que ilustra uma banda que tanto se sentiria confortável a tocar covers de Demis Roussos num hotel barato, num casino vazio ou num clube de clientela duvidosa como, ao mesmo tempo, mergulha na complexidade da palavra de cariz existencialista.
É na dicotomia entre uma vasta paleta harmónica e a densidade de uma voz quase sempre em diálogo interno - que vagueia entre o registo grave de um crooner e o roqueiro displicente - que os Staccato Limão encontram o (des)conforto da sua estética. É essa contradição que traz vertigem a uma linguagem de rock limpo, que respira e que nos sopra para longe.
Os Staccato, pela sua proximidade com o Mediterrâneo, concedem, sem preconceitos, uma dose de azeite à sua estética, através do uso recorrente de sonoridades cheesy que poderiam servir para entreter turistas sexagenárias que atracaram num cruzeiro no Algarve nos anos 80, à busca do seu quinhão de romance tropical no fundo de um cocktail de sombrinha, sob uma burlesca bola de espelhos. Esse azeite é, contudo, temperado com o azedo da sua dose de Limão através da crueza das temáticas, das reminiscências incómodas que coexistem em todas as consciências e do lado decadente que há em tudo o que brilha.
Os Staccato Limão buscam a sua energia no Sol, no vento típico da costa vicentina, e nas ondas desse mar, mas é a Lua que lhe(s) causa as marés.